Monergismo VERSUS Sinergismo, por Norman Geisler

Blog do Pastor Gilson Soares


 
TEXTOS DE TEOLOGIA E FILOSOFIA



MONERGISMO VERSUS SINERGISMO, POR NORMAN GEISLER.


Monergismo versus Sinergismo

Isto nos encaminha a calorosa disputa teológica travada entre o Monergismo e o Sinergismo. Os calvinistas firmes sustentam que o momento da conversão (regeneração) resulta totalmente da operação de Deus, e não conta com qualquer tipo de cooperação por parte dos seres humanos. Isto, algumas vezes, e chamado de graça operativa, em oposição à graça cooperativa. A regeneração (conversão) e, dessa forma, considerada um ato monergista (significando “um ato executado somente por parte de Deus”). Porem, de acordo com os calvinistas firmes, depois da regeneração, em todos os momentos, a nossa vontade coopera com as ações de Deus no sentido de atingirmos a santificação (purificação); toda esta subsequente da graça e reconhecida como ato sinérgico (significando “um ato executado com a nossa cooperação” (vide Sproul, WB, 119).

Ou seja, para o calvinista firme, os seres humanos são completamente passivos no que diz respeito ao inicio da sua salvação, mas agem em cooperação ativa com a graça de Deus, daquele ponto em diante. Este ponto de vista foi defendido, por exemplo, por Agostinho (no período posterior da sua vida), por Martinho Lutero, Joao Calvino, Jonathan Edwards e Francis Turretin. O Sínodo de Dort, seguindo a tradição do “Agostinho posterior,” chegou ate mesmo a fazer uso da ilustração da “ressurreição dos mortos” para se referir a obra de Deus na vida dos não-regenerados.

Conforme já comentamos, o ponto de vista dos Calvinistas Firmes que preconiza um Monergismo inicial esta baseado na concepção de que Deus exerce sua graça irresistível contrariamente a vontade da pessoa. O que se constituiriam em uma violação da liberdade de decisão dos seres humanos, a qual procede do próprio Deus. Ha vários motivos para se rejeitar o Monergismo.

O Monergismo não E biblicamente Fundamentado

A Bíblia não apoia a visão de que a graça irresistível seja exercida contrariamente a vontade das pessoas; ela afirma que todos podem, e alguns resistem à graça de Deus. Jesus lamentou:

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! (Mt 23.37; cf. 2 Pe 3.9)

Estevão se referiu ao orgulho do povo de Deus nas seguintes palavras: “Vos sempre resistis ao Espirito Santo” (At 7.51). Ainda nos dias de Noé: “Então, disse o SENHOR: Não contendera o meu Espirito para sempre com o homem” (Gn 6.3). Na verdade, apesar de ser tarefa do Espirito Santo “convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (cf. Jo 16.8), nem todas as pessoas responderão de maneira positiva a sua ação. Durante o seu ministério terreno, apesar das suas obras sobrenaturais, Jesus não convenceu a todos acerca da necessidade da salvação. Ele, na verdade, chegou a dizer que algumas pessoas rejeitaram de tal forma a obra do Espirito Santo que haviam “blasfemado contra Ele” e, portanto, jamais receberiam o perdão e, por isso, entrariam em “condenação eterna” (cf. Mc 3.28,29).

O Monergismo não E Apoiado pelos Pais Eclesiásticos

A exceção do “Agostinho posterior,” que foi convencido na controvérsia donatista, nenhum outro pai eclesiástico de peso, ate o período da Reforma foi simpatizante da doutrina da graça irresistível independente da vontade humana. Por exemplo, o “Agostinho anterior” (no inicio do seu ministério) afirmou corretamente:

Deus e considerado o “nosso Ajudador”; mas ninguém pode ser ajudado sem fazer algum tipo de esforço voluntario. Pois Deus não opera a salvação em nos como se estivesse lidando com pedras irracionais, ou com criaturas que não tenham recebido nem razão, nem vontade própria. (OFSB, 2.28).
Ate mesmo a perspectiva de Martinho Lutero, o primeiro nome de peso a se levantar na defesa dessa doutrina, depois do “Agostinho posterior,” foi contradito pelo seu discípulo e sistematizador, Filipe Melanchton (1497-1560), a quem, posteriormente, os luteranos passaram a seguir. De modo semelhante, a visão de Joao Calvino foi questionada por Jacó Armínio (1560-1609) é rejeitada por todos os calvinistas moderados.

O Monergismo E contrario ao "Principio Protestante"

Um dos princípios fundamentais do Protestantismo e a “salvação somente pela fé” (Latim: sola fide). Se a salvação vem por meio da fé — o que e claramente afirmado pelas Sagradas Escrituras — então a fé e, logicamente, anterior à regeneração. E, como já vimos acerca deste assunto, a Bíblia e clara ao afirmar que esta e mesma a ordem das coisas. Somos salvos por meio da fé (Ef 2.8,9); somos justificados pela fé (Rm 5.1); e precisamos crer em Cristo para nos salvarmos (At 16.61). Em cada um destes casos, a fé vem, logicamente, antes da salvação. Nos não nos salvamos, para depois passar a crer; mas sim, cremos para que possamos nos salvar.

O Monergismo E contrario a Onibenevolencia de Deus

Os calvinistas firmes admitem crer que Deus não e Todo-amoroso no sentido da redenção: Eles afirmam que Ele ama, enviou Jesus e procura salvar somente os eleitos. Contudo, isto e contrario ao que dizem as Sagradas Escrituras; um Deus Todo-amoroso (1 Jo 4.16) ama a todos (Jo 3.16) e deseja que todos cheguem a salvação (1 Tm 2.4-5; cf. 2 Pe 3.9).

O Monergismo E contrario ao Livre-arbítrio Concedido por Deus

Como e amor e sempre opera por meio da persuasão e não pela coação, Deus não pode forcar ninguém a ama-lo — e é isso que a “graça irresistível” faria sobre alguém que não desejasse se salvar. O amor persuasivo, mas resistível, de Deus caminha junto com a liberdade de decisão que Ele mesmo concedeu aos seres humanos. Como já vimos, o livre-arbítrio humano e autodeterminação, e envolve a capacidade de escolher seguir um rumo contrario. Podemos aceitar ou rejeitar a graça de Deus.

Em suma, a graça salvifíca de Deus opera de forma sinérgica com o nosso livre-arbítrio; ou seja, ela precisa ser recebida para se tornar efetiva. Não existem condições a serem impostas para a concessão da graça por parte de Deus, porem existe uma condição para a sua recepção — a fé. Em outras palavras, a graça de Deus funciona de forma cooperativa, não operativa. A fé e a pré-condição para se receber o dom divino da salvação, e a fé antecede a regeneração, já que somos “salvos por meio da fé” (Ef 2.8) e “justificados pela fé” (Rm 5.1).


BIBLIOGRAFIA

GEISLER. Norman, Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD. 2010. pp. 167-69