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A EXISTÊNCIA HISTÓRICA DE JESUS EM FONTES GENTÍLICAS –
PRIMEIRA PARTE
Referências históricas sobre Jesus na literatura
gentílica
1 –
Notícias sobre Jesus e os cristãos no tempo de Nero
O
historiador romano Cornélio Tácito, nascido no ano 55 e falecido no ano 120
depois de Cristo, consultou durante muitos anos os documentos existentes nos
arquivos do Senado Romano, e quando já dispunha de um farto material, escreveu
dois livros: um, intitulado História, e outro, intitulado Anais. A importância deste último livro e a autoridade do
historiador são hoje reconhecidas no mundo inteiro. No 15º livro dos Anais, a partir do parágrafo XXXVIII, Tácito
começa a narrar o terrível incêndio que quase destruiu totalmente Roma no ano
64 d.C.
Após escrever magistralmente o sinistro, o historiador diz que entre os
escombros fumegantes, em meio às centenas de cadáveres e milhares de pessoas
chorosas e desabrigadas, começou a se espalhar a notícia de que fora o próprio
Nero que mandara incendiar a grande Capital do Império Romano. Além do mais,
durante o incêndio, alguém tinha visto Nero tocando sua lira e cantando um hino
cuja letra falava de destruição, também pelo fogo, da antiga cidade de Tróia. Á
luz da metrópole devorada pelas chamas, o sanguinário imperador Nero delirava
de satisfação diabólica! Um murmúrio de vingança começou a se espalhar entre o
povo.
Ao
saber que a suspeita pesava sobre o seu nome, e temendo que a multidão se
revoltasse e marchasse contra ele para matá-lo, Nero, o imperador incendiário,
“mandou então abrir o Campo de Marte, os monumentos de Agripa, e até os seus
próprios jardins. Armaram-se barracas às pressas para recolher a gente mais
pobre; mandaram vir de Óstia e outros municípios vizinhos todos os móveis
precisos; e regulou-se a venda de pão pelo preço mais baixo” (Parágrafo XXXIX).
Após citar mais algumas frustradas tentativas de Nero para acalmar e
tapear o povo, Tácito escreveu as seguintes palavras conclusivas e de imenso
valor para nós, pois fazem referência à existência dos cristãos primitivos e,
principalmente, faz menção de Jesus Cristo:
“Mas nem todos os socorros humanos, nem as liberalidades do príncipe,
nem as orações e sacrifícios aos deuses podiam diminuir o boato inflamatório de
que o incêndio não fora obra do acaso. Assim Nero, para desviar as suspeitas,
procurou achar culpados, e castigou com as penas mais horrorosas a certos
homens que, já dantes odiados por seus crimes, o vulgo chamava cristãos.
“O
autor desse seu crime foi Cristo, que no governo de Tibério foi condenado ao
último suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. A sua perniciosa superstição,
que até ali tinha estado reprimida, já tornava a alastrar-se não só por toda a
Judéiaa, origem deste mal, mas até dentro de Roma, aonde todas as atrocidades
do universo, e tudo quanto há de mais vergonhoso vem enfim acumular-se, e
sempre acham acolhimento. Em primeiro lugar se prenderam os que confessavam ser
cristãos, e depois pelas denúncias destes uma multidão inumerável, os quais,
além de terem sido acusados como responsáveis pelo incêndio, foram apresentados
como inimigos do gênero humano.
“O
suplício destes miseráveis foi ainda acompanhado de insultos, porque ou os
cobriram com peles de animais ferozes para serem devorados pelos cães, ou foram
crucificados, ou os queimaram de noite para servirem como archotes ou tochas ao
público. Nero ofereceu seus jardins para este espetáculo, e ao mesmo tempo
dava-se os jogos do circo, confundido com o povo em trajes de cocheiro, ou
guiando as carroças. Desta forma, ainda que culpados e dignos dos últimos
suplícios, mereceram a compaixão universal por se ver que não eram imolados à
utilidade pública, mas aos passatempos atrozes de um bárbaro”. (Tácito. Anais. Tradução de J. L. Freire de
Carvalho. W. M. Jackson Inc. Rio de Janeiro. 1950. PP 405-409).
2 –
Mulher da alta sociedade romana aceitou a Cristo
O
interessante é que Tácito deixou também em seu livro Anais outro importante registro relacionado com o Cristianismo,
quando falou do julgamento de uma mulher pertencente à alta sociedade romana,
chamada Pompônia Grecina. Essa mulher foi acusada de ter passado a fazer parte
do número de pessoas que praticavam “uma superstição importada”. Hoje, sabemos
que essa “superstição importada” não era outra coisa senão o Cristianismo. Além
do mais, foram descobertas nas Catacumbas de Roma inscrições datadas do século
III, fazendo referência à família de Pompônia (gens pomponia).
Numa sociedade apodrecida pelo pecado, amante de inúmeros vícios e
propagadora da degradação em todas as camadas sociais, a súbita mudança no
comportamento de Pompônia causou espanto a todos os que a conheciam. Ora, que
força, que motivo, que poder haveria de mudar o comportamento de uma mulher
depravada da Corte de Nero, senão a poderosa e transformadora atuação de Jesus
Cristo no mundo romano, cuja mensagem evangélica havia sido recentemente levada
para lá pelos cristãos primitivos? Eis o importante registro de tácito, cujo
olhar de historiador não teve penetração suficiente para ver na mudança de
comportamento daquela mulher um sinal de sua conversão ao Cristianismo; viu tão
somente naquela mulher um luto pela morte de Júlia, filha de Druso:
“Pompônia Grecina, dama da alta sociedade (esposa de Aulo Poacio, que
fez jus, como já mencionado, à vocação como sua campanha contra a Grã-Bretnha),
foi acusada de aderir a uma superstição importada; o próprio marido a entregou;
segundo precedentes antigo, apresentou aos membros da família o caso que
envolvia a condição legal e a dignidade da esposa. Esta foi declarada inocente.
Pompônia, porém, passou a transcorrer sua longa vida em constante melancolia;
morta Júlia, filha de Druso, viveu ainda quarenta anos trajando luto e
fartando-se de tristeza. Sua absolvição, ocorrida em dias de Cláudio (Nero),
veio a ser-lhe motivo de glória”. (Anais. Livro XIII. Parágrafo XXXII. Citamos
o texto reproduzido por Henry Betenson, em Documento
da Igreja Cristã. Trad. Helmuth Alfredo Simon. Aste. São Paulo. 1967. P. 26).
3 –
Suetônio e o “i” trocado pelo “e” no nome de Cristo
Outro historiador romano que fez duas importantes referências históricas
a Jesus Cristo foi Caio Suetônio Tranquilo (69-141). Ele foi, ao mesmo tempo,
militar e escritor. Ingressando na vida política, tornou-se senador. Nas horas
vagas, Suetônio dedicava-se à pesquisa histórica, ao estudo dos costumes
romanos, e como produto de suas pesquisas escreveu oito livros, dos quais só um
chegou até nós: A vida dos Doze Césares.
Neste livro, Suetônio afirma que o imperador Tibério “expulsou de Roma os
judeus que viviam amotinados por incitamento de Cresto”. (A Vida dos Doze Césares. Trad. Sady Garibaldi. Atena Editora. São
Paulo. 3ª Ed. 1950. P. 254). Ora, esses judeus eram os primeiros cristãos; eles
haviam abandonado o judaísmo após aceitarem a pregação dos apóstolos, e Cresto não era outro senão Cristo. Não muito bem informado acerca
do Cristianismo, o historiador Suetônio escreveu erradamente o nome de Cristo,
e supunha que o próprio Jesus (e não os apóstolos) estivera pessoalmente em
Roma, “influenciando” os cristãos a se entregarem à prática de uma religião
contrária ao paganismo romano.
Essa expulsão registrada por Suetônio ocorreu nos dias do Imperador
Tibério Clúadio Druso, e coincide com o que ficou registrado em Atos 18.2: “Lá
(Paulo) encontrou certo judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente
chegado da Itália, com Priscila, sua mulher, em vista de ter Cláudio decretado que todos os judeus se retirassem de
Roma. Paulo aproximou-se deles”.
Ao
falar sobre a vida do sucessor de Tibério, que não foi outro senão o satânico
Nero Cláudio César, Suetônio torna a fazer referência aos cristãos (e
indiretamente, ao originador dos cristãos, Jesus Cristo), confirmando assim o
que já havia sido registrado por Tácito, Diz Suetônio que, sob o reinado de
Nero, “aos cristãos, espécie de homens afeitos a uma superstição nova e
maligna, infligiram-se-lhes suplícios”. (Idem, p. 280)
Todos esses documentos, apresentados até agora, são mais do que
suficientes para fazer silenciar todas as satânicas insinuações de que Jesus
nunca existiu. Que mito, que fantasma, que figura lendária seria capaz de levar
milhares de pessoas a morrerem por não negarem o seu nome? Os judeus ou
cristãos daquela época teriam criado uma lenda, a fim de morrerem por ela? De
modo algum. A impressão, as marcas e a fé que Jesus deixara em suas almas
tornaram-se cada dia mais vivas e ninguém as conseguiu apagar. Tentativas não
faltaram, como a do governador da Bitínia, cidade da Ásia Menor, autor da
terceira fonte de referência história aos cristãos (e, consequentemente, a
Jesus Cristo, pois não teriam surgido os cristãos se Cristo não tivesse sido
uma pessoa real, histórica). Esse governador chamava-se Plínio, o Moço. É sobre
uma de suas cartas que falaremos a seguir.
BIBLIOGRAFIA
COSTA. Jefferson Magno, As
grandes defesas do cristianismo. Rio de Janeiro: CPAD. 1988. p. 29-34
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